A nova gestão viu-se obrigada a abrir a caixa de Pandora para entender como a administração anterior conseguiu devastar as contas
Foi-se o tempo que o País poderia se dar ao luxo de usar a máxima popular de que “o ano só começa depois do Carnaval”. Desde janeiro, os gestores estão refazendo as contas e planejamentos para identificar o quanto ainda será necessário cortar gastos para que se chegue ao minimamente satisfatório. As dificuldades são incontestáveis e evidenciam que 2017 será extremamente preocupante para economia brasileira. Há sinais de recuperação, mas, isoladamente, não são páreo para o cenário geral de recessão, ainda presente.
A exemplo do resto do País, Campo Grande enfrenta dificuldades hercúleas. A difícil relação entre receita e despesa fez com que o prefeito Marcos Trad comece, desde já, a tentar recuperar valores não pagos pelos contribuintes. Essa estratégia mostra-se necessária para situação do caixa e, ainda mais, pelo montante que foi deixado para trás. No total, a dívida ativa é de R$ 2,6 bilhões, mas grande parte desse montante é considerada “dívida podre”, ou seja, impossível de se reaver.
Além desse histórico, há os problemas de futuro não muito distante. Foi anunciado que os 22 mil servidores vão ficar sem aumento salarial este ano. Os dados do último quadrimestre de 2016 indicam gasto com pessoal que compromete 52,83% da receita corrente líquida, acimado do limite prudencial, de 51,3%. Com frases de efeito, o secretário de Finanças e Planejamento, Pedro Pedrossian Neto sepultou qualquer esperança do funcionalismo público de conseguir reajuste. Marcos Trad assumiu prefeitura com dívida de R$ 363 milhões e teve que queimar o valor arrecadado com Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para pagamento de salários. O recurso, historicamente, era reservado para garantir o 13º, mas essa tradição foi quebrada com a nefasta vitória de Alcides Bernal que só deixou obstáculos para a nova gestão.
Entre as desagradáveis surpresas, débito de R$ 20 milhões na secretaria de Saúde com fornecedores de medicamentos e insumos que não recebem há pelo menos um ano. A tentativa é apelar para negociação, o que ainda está em fase embrionária e sem efeito prático.
Não à toa, as licitações abertas na era Bernal foram suspensas. O rastro de destruição deixado pelo ex-prefeito no Executivo é motivo suficiente para que essas pretensas compras sejam avaliadas com critério e rigor. Em uma delas, R$ 145 mil seriam gastos apenas com a pintura externa do prédio da Agência Municipal de Trânsito (Agetran). É evidente que o limite do razoável passou longe em situações como essa. A nova gestão viu-se obrigada a abrir a caixa de Pandora para entender como a administração anterior conseguiu devastar as contas. A cada verificação, a equipe surpreende-se com o amadorismo, para dizer o mínimo, com que Campo Grande foi administrada. Até que a casa esteja minimamente arrumada, será preciso que todos entendam que será imprescindível fazer sacrifícios pelo caminho
Fonte: Correio do Estado / Foto: